Mãos dadas

maos dadas

Otto,

Hoje fiquei de longe observando tu saíres de casa com teu pai. Mãos dadas, caminhando lado a lado, fiquei vendo vocês dois da saída do elevador, passando pela garagem, abrindo o portão e andando escada acima em direção ao estacionamento onde estava o carro. Uma cena tão simples, mas tão cheia de significados.

Teus passinhos cada vez mais firmes acompanhavam os passos do pai. Com o braço esticado para cima alcançavas a mão dele e dava para sentir a segurança que isso te passava. Tanto que a qualquer risco das mãos se soltarem já te apressavas em assegurar-te de que ela – a mão dele – estava ali logo ao alcance. E ele com a tua mochila nas costas te guiando, nessa que foi uma das primeiras vezes em que não foste no colo, foste com teus próprios passos. E a tua mão na do teu pai me lembrou a cena da maternidade que fui ver só em foto depois: logo que chegaste ao mundo, foi na mão dele que te apoiaste, segurando-a com foça com todos os teus dedinhos. A mão do teu pai foi teu esteio desde o primeiro dia.

E aí volto a pensar: como o tempo passa rápido, como a tua autonomia vem chegando, com pequenas conquistas, dia a dia, mas que representam muito para ti e para nós. Esses são os primeiros de muitos passos que te levarão a uma vida inteira de escolhas, de chances, de diferentes possibilidades. E, na maioria delas, não estaremos segurando tua mão para te salvaguardar dos possíveis tropeços. E a mim – que tenho o compromisso assumido comigo mesma de te criar para o mundo – já me aperta o coração.

Sabe o que é, filho? É que é muito amor. Mas não quero que esse amor todo acabe se confundindo com proteção demais, com a criação de escudos demais. Já falei sobre isso aqui, não quero evitar todos os teus tombos, por isso te deixo – e vou deixar sempre, em proporções bem diferentes das de agora – testar até onde consegues ir, te permito subir, tentar alcançar, provar, muitas vezes ver que não dá certo e te frustar. Aprender a lidar com os desapontamentos é uma lição que quero te ensinar (quero que aprendas melhor do que eu aprendi).

Mas, podes ter certeza, a nossa mão sempre estará lá, a tua espera, ao teu alcance. É só esticar o bracinho para segurar.

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