Agulha e lã

Exif JPEG

Faz alguns dias terminei de tricotar tua primeira blusinha feita por mim e um amigo sugeriu que eu te escrevesse sobre isso. É só uma blusa, mas fiquei pensando no quanto eu poderia escrever sobre ela. No quanto ela me lembra da minha própria infância – e a do meu amigo e de tantos outros da minha geração – quando a mãe passava dias tricotando blusas, casacos, cachecóis, e como eu ficava feliz quando usava essas peças feitas com tanto carinho, que aqueciam a alma além do corpo.

Também pensei em te falar, pelo simbolismo dessa blusa, em como é bom aprendermos a dar valor a pequenos gestos, mas que levam consigo um caminhão de ternura e de boas energias. Sabe, eu e teu pai gostamos de trocar esse tipo de presente. Não vou mentir pra ti e dizer que não gosto de ganhar bolsa, roupa, perfume. Gosto, sim. Mas, os presentes que realmente me marcaram foram outros: um jantar especial, uma carta, uma poesia, uma viagem. Muita gente ri quando conto que em um dos aniversários mais recentes pedi ao teu pai como presente que ele aprendesse a fazer Matjes Hering – e ele fez e me trouxe uma travessa gigantesca que eu comi até não poder mais!

Mas além de tudo isso, quero dizer o quanto tudo o que te envolve vem cercado desse zelo, desse carinho, que essa blusinha representa. Quando eu te esperava cuidei para cada cantinho que fosse te receber aqui em casa te transmitisse isso. Escolhi cuidadosamente os tecidos, costurei todo o teu enxoval de roupa de cama, bordei almofada com teu nome, decorei teu quarto, fiz os teus primeiros ursinhos com feltro. Cada pedacinho de tudo o que te rodeia foi feito para te mostrar o quanto eu já te amava.

Teci com agulha e lã o teu aconchego, costurei com tecido e linha teu conforto, fiz teus afagos com feltro. Tudo isso para tentar materializar um pouco desse amor intangível e inabalável. E aí ela deixa de ser só uma blusa.

Deixe um comentário