Vem com fé

vem com fe

Meu filho, a menos de dez dias de vires ao mundo começo a escrever essas cartas para tentar eternizar aqui um pouco do que o tempo costuma redesenhar, as lembranças que muitas vezes acabam tomando outras formas e cores com a distância de espaço e tempo. Gosto de me lembrar dos momentos marcantes tal como foram, com a intensidade e a vivacidade de cada um deles. Tenho consciência que as palavras não vão fazer voltar o tempo, tampouco reconstituir as sensações. Porém, te darão uma ideia de alguns episódios da tua vida e da nossa enquanto te esperávamos.

Depois de quase nove meses, a tua chegada bate à nossa porta. Posso te dizer que esse tempo foi exatamente como eu idealizava: sem enjoos, dores, desejos descabidos, mudanças bruscas de rotina, noites em claro, preocupações. O fato de estarmos absolutamente certos da nossa vontade de te ter entre nós – eu e teu pai – ajudou, certamente, para que a gestação fluísse assim, serena e branda.

Agora, nos minutos finais, te confesso que uma pequena angústia povoa meus dias. Preparei-me durante todo esse tempo para sentir todo o amor e toda a dor com a intensidade que é devida ao parto, para ser protagonista da tua chegada, para te sentir mais perto a cada contração, até que, numa explosão de emoções, tu viesses para nossos braços, na tua hora, no teu momento, com teu esforço também.

Tudo isso, por força das circunstâncias, não será possível. Mas de qualquer maneira, meu filho, estou certa de que a tua escolha e a da natureza devem ser respeitadas e que a forma como virás ao mundo nada mudará nossa ligação, o elo de amor e confiança que sempre teremos, nem mesmo teu desenvolvimento físico ou espiritual. Estamos aqui esperando para te receber com todo o amor que pode caber em nossos corações. Vem com fé e que Deus te acompanhe em cada momento.

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